O entrevistado de hoje da
Seção Raio-X é uma pessoa discreta, paciente, calma, com princípios cristãos e
extremamente profissional. Há oito anos
no jornalismo, DELCIMAR Bessa FERREIRA, 29 anos, conseguiu firmar o sue nome na
área e, após ter ficado conhecido como o “Perdigueiro do DAT” (jornal do Grupo
Mogi News), atualmente trabalha como editor deste mesmo Grupo. Nascido em Poá,
cidade que ele mora até hoje, o Perdigueiro tem duas paixões, a primeira é a sua
esposa Luciana que ele conhece há 11 anos e com quem está casado há 1 ano e 9
meses, e a segunda é o jornalismo, na sua forma mais pura, a reportagem. Confiram
na íntegra essa bela entrevista e conheçam um pouco mais deste grande
profissional que afirma já ter sido muito egocêntrico (hoje menos), além de se
definer como uma pessoa crítica, que prima pelo profissionalismo e pela
qualidade em tudo que faz, que pensa que mesmo você não fazendo aquilo que mais
gosta, deve dar o seu melhor sempre e, muitas vezes, exige que as pessoas
também o façam. Ele se considera também muito família, que costuma sair pouco
de casa, alguém que gosta de ler um bom livro, ouvir música e jogar videogame.
100C - Por que o jornalismo?
DF - Porque o jornalismo,
assim como a ciência política são as únicas profissões fundamentais para o
livre exercício da democracia. Sempre participei de grupos de jovens na minha
adolescência onde as decisões eram tomadas de forma democrática, foi assim que
aprendi. Posso dizer que tenho duas grandes influências para a escolha do
jornalismo. A primeira é do meu tio Durval Ferreira (falecido), que trabalhou
por anos na extinta revista Manchete e foi o primeiro a descobrir o paradeiro
do PC Farias (tesoureiro do ex-presidente Collor) em Frankfurt, na Alemanha, e
me ligou do hotel onde ele estava para me contar que ia entrar ao vivo no
Jornal Nacional (depois a Globo mandou o Roberto Cabrini para a Tailândia, fez
uma exclusiva e ficou com todo o mérito). A segunda pessoa que me incentivou
foi o primeiro ex-prefeito de Poá, José Lourenço Marques da Silva, que
entrevistei quando estava ainda na 6ª série do antigo primeiro. O tema era
sobre a fome no Brasil. Ele era advogado e tinha experiência política, me
explicou sobre a situação brasileira na época, recomendou vários livros e
disse: para entrevistar é preciso estar sempre informado. Depois disso, escrevi
uma redação sobre o tema para a aula de Geografia e o professor resumiu: “você
seria um bom jornalista”.
100C - Depois que você entrou
para essa área, aonde você já trabalhou e em que cargo? Aonde você trabalha
atualmente e há quanto tempo? Qual função exerce?
DF - Posso me considerar uma
pessoa privilegiada, pois sempre desde a faculdade, fiz vários estágios que me
deram uma experiência em vários ramos do jornalismo. Em 2002, passei em um
concurso para trabalhar na Companhia de Transmissão de Energia Elétrica
Paulista (Cteep), em São Paulo. Fiquei um ano na empresa e viajei para algumas
cidades do interior paulista para fazer as reportagens do jornal interno. No dia
a dia ficava responsável por atualizar a página da intranet da Cteep. Depois em
2003, fiz um estágio de um mês no próprio Mogi News, onde colaborei na
elaboração de três suplementos. Ali foi a primeira experiência em uma redação e
estava vislumbrado. Minha chefe foi a Vera Marcolino, que está no jornal até
hoje. Ao término do estágio, pediram para eu fazer um teste, mas não passei.
Depois trabalhei em uma
agência de publicidade, em Suzano, onde era responsável por buscar informações
para um jornal de uma empresa de fabricação de materiais de construção.
Paralelamente, colaborava na comunicação da Associação Cultural Opereta, em
Poá, onde fiz várias amizades. Depois de formado trabalhei com o ex-vereador
Edson Barbosa, onde prestei assessoria de imprensa e fizemos alguns materiais
informativos.
Meu primeiro trabalho com
carteira assinada foi em uma empresa que fica no Jabaquara chamada, Arquivo da
Propaganda, onde era leitor de clipping. Era responsável por ler todos os
grandes jornais do Brasil (do Oiapoque ao Chuí, literalmente), além das
revistas semanais e dos principais portais noticiosos, para produzir relatórios
de inteligência competitiva para grandes empresas. Fiquei no Arquivo por dois
anos e meio, até que em 25 de julho de 2007, depois de enviar currículos para
várias empresas, o Mogi News me chamou para uma entrevista. Essa é uma história
bem interessante que me lembro até hoje.
Recebi uma ligação do
editor-chefe Marcio Siqueira (ele não sabe disso), quando estava indo para
Botucatu, no interior de SP, para o funeral do meu tio Durval. Estava no ônibus
quando ele perguntou se eu podia ir lá na redação naquele mesmo dia para uma entrevista.
Imagina minha preocupação, de não ir e perder a vaga... Perguntei se não
poderia ser no dia seguinte e ele disse que não tinha problema. Fiquei aliviado
e agradeci a Deus porque parece que já estava escrito de alguma forma. Marcamos
no horário da manhã. A Cristina Gomes foi quem me entrevistou. Confesso que
estava muito nervoso, queria mostrar os meus trabalhos que já havia
desenvolvido, mas ela não quis ver. Agora eu sei o porquê. Pela manhã, é a hora
de preparar a pauta para os repórteres e ela devia estar bem atarefada (risos).
Quem se lembrou de mim e me recomendou para a vaga, que depois eu fiquei
sabendo foi a Maria Salas, hoje responsável pelo Diarinho. Sou eternamente
agradecido a estas pessoas. No DAT estou desde 2007, sendo três anos na reportagem
e um ano na edição, agora.
100C - O jornalismo é
exatamente aquilo que você imaginava enquanto estudava? Por quê?
DF - Não. Infelizmente é
difícil para mim acreditar que não existe independência e imparcialidade para a
prática do jornalismo. Eu tive um professor na faculdade, o Juarez Tadeu, que
era um apaixonado pela profissão. O amor com que dava aula e falava das
situações cotidianas de uma redação, da pressão pelo deadline, pela busca
incessante por um furo, trouxe isso para mim e não me arrependo. Só estando na
área mesmo para você descobrir que todo veículo de comunicação tem rabo preso
com alguém e que isso vai desde a escala local, nacional até mesmo
internacional. Mas como disse, no início, haja o que houver, faça sempre o seu
melhor. E na medida do possível, tento fazer com que as coisas sejam feitas.
Acho que o que vale é o seu profissionalismo. Não é porque o sistema é desse
jeito, que você não vai apurar direito, ouvir várias fontes, ouvir o outro
lado, aprofundar um determinado assunto. É o que procuro fazer. E nunca, NUNCA,
se deixar ser persuadido a fazer o que você não queira.
100C - Qual foi a pior e a
melhor pauta que você cobriu?
DF - Ai que pergunta difícil.
Talvez essa não seja a pior, mas certamente foi a mais constrangedora e você
vai se lembrar disso. Eleições de 2008, fui entrevistar o candidato a prefeito
de Poá, Eduardão, e fiz uma série de questionamentos sobre a maternidade
recém-inaugurada, Maria de Nazaré. Perguntei se ele fosse eleito, manteria a
unidade aberta, e ele me disse que a maternidade era um “engodo” e que não
teria licença para funcionar e iria rever a questão. A oposição tripudiou em
cima, dizendo que o Eduardão assumia que iria fechar a maternidade. Eles
mandaram uma carta que me atingia diretamente, questionando meu profissionalismo.
O DAT publicou um editorial em minha defesa e em defesa do que fora publicado
na entrevista. Passada toda a confusão, eis que me aparece ele e o advogado na
redação, “faz as pazes” com a direção e eu ainda tive de cumprimentá-lo. Fui taxado
de “inimigo” do Eduardão, a luta de Davi e Golias etc. Quero deixar claro que
não tenho e nunca tive nada contra ele e com quem quer que seja.
Já uma das melhores pautas que
fiz é uma que não foi publicada, pois quando descobriram que a reportagem iria
sair, pediram a minha cabeça.
100C - Se possível, destaque
três colegas do jornalismo na região que você admira o trabalho.
DF - Três para mim é pouco,
prefiro não citar nomes, mas para as pessoas que participaram e colaboraram da
minha vida profissional todos são admiráveis e contribuíram muito com o que sou
hoje.
100C - O que é o jornalismo
para você?
DF - Neste ponto tenho uma
visão utópica que sempre fica no horizonte, para quem sabe um dia eu possa
alcançar. O jornalismo é a arte de contar histórias, e fugir do lugar-comum, e
inovar e de certa forma, ousar. E sair na rua, com uma pauta e voltar com três
ou quatro. É despertar para uma consciência crítica em relação ao mundo e
perder a ingenuidade. É sempre enxergar que existem pelo menos duas versões
para um mesmo caso.
100C - O que você mais gosta e
o que você mais odeia nas pautas?
DF - O que eu mais gosto é
quando você tem tempo para apurá-las, ou seja, quase nunca (risos).
Brincadeira. O melhor de uma pauta é poder dar o seu toque pessoal. É ir além
da pauta, trazer para o editor aquilo que ele não espera, surpreendê-lo. O que
mais odeio é justamente o contrário, quando você tem que dar um determinado
enfoque que não necessariamente é o melhor e o mais correto.
100C - Qual foi a sua maior
alegria e a maior decepção com o jornalismo?
DF - Minha maior alegria é
fazer do jornalismo uma fonte de inspiração para outras atividades. Hoje,
escrevo um blog e iniciei uma pesquisa para um livro histórico (conto mais
detalhes abaixo). A maior decepção é como algumas empresas praticam um
jornalismo raso, sem inovação e profundidade.
100C - Você tem alguma
sugestão para o 100 Comunicação?
DF - O 100 Comunicação poderia
criar uma comissão de pessoas para escolher as melhores reportagens regionais
do ano nas categorias de cidades, polícia, esportes, e outros, divididos por
tipo de veículo. Uma outra só para os focas. Ver o que tem de produção
jornalística nas universidades. Tem muita coisa boa acontecendo e que,
infelizmente, não é divulgado. Faz uma premiação simples, simbólica. Qualquer
coisa neste sentido, já vai ser bem legal.
100C - Destaque um ponto
positivo e um negativo do 100C.
DF - O positivo certamente é
este espaço para conhecer melhor os profissionais, saber de onde veio, o que
pensa (quem sabe assim seremos valorizados). Minha mãe sempre diz, “se você não
se valoriza, quem vai te valorizar”. Sábias palavras (risos). O negativo ainda
é a falta de mobilização das pessoas para as causas da nossa profissão. Cadê a
galera que luta pelo diploma, gente? Ninguém vai fazer nada. Temos que ser
ouvidos, se fazer presentes nos fóruns de discussão, incomodar mesmo.
100C - O que você espera para o
seu futuro profissional?
DF - Puxa, que difícil. Estou
pensando em fazer pós-graduação (já ta na agenda de 2012). Ainda não sei se
faço especialização em juventude ou educomunicação, duas áreas correlatas.
Tenho um sonho de montar um negócio próprio. Acho que nossos jovens não são
retratados e não se enxergam no noticiário local. Se tem um grupo na sociedade
é que capaz de promover grandes transformações no cenário político, econômico,
ambiental e cultural são os jovens.
100C - Você ficou conhecido
como o “Perdigueiro” do DAT, por quê? Quem deu esse apelido?
DF - Nossa, você já sabe! Bom,
quem disse isso para mim pela primeira vez foi o Marlon Maciel. O cão
perdigueiro é aquele que tem um bom faro para achar as coisas. E eu costumo
dizer que tenho um instinto de repórter. Com o tempo, a gente vai entendendo o
contexto das coisas e formula hipóteses. Às vezes, você nem tem a informação
ainda, mas com seu instinto, procura ver se a hipótese se confirma. Muitas
vezes, isto acontece.
Perguntas para quebrar o gelo:
100C - Conte duas ou mais
situações engraçadas que você passou durante as pautas.
DF - Só me lembro de uma agora
de cabeça. Redação do DAT em 2009, em Suzano. Auge da gripe suína. Estávamos
todos atrás de alguém tivesse sido contaminado na região para relatar. De repente,
me chega um cidadão na redação, com uma máscara cirúrgica na boca e diz que o
filho dele está infectado pelo vírus da gripe A e me entrega um papel que
parecia ser um laudo médico em que comprovaria que contraíra a doença. Primeiro
que eu o entrevistei do lado de fora, na sacada. Durante a conversa, o cara não
me espirra. Meeeu! E o medo de ficar com gripe A também. Na hora eu dispensei o
cara, enquanto quem estava na redação dava gargalhadas. Fui lavar a mão, o
rosto, se pudesse tomava banho até. Que maluco!
100C - Destaque três atuais e
três ex-companheiros de trabalho que você classifica como “fora do normal”,
seja pela personalidade, loucura ou coisas do tipo. Explique:
DF - Primeiro que para estar
nesta área tem que ser louco mesmo. Mas vamos lá. Márcia Dias e Monalisa
Ventura, sempre falava besteira quando saíamos juntos para as pautas. Khadidja
Campos, pela loucura e sinceridade em pessoa. Atualmente temos uma equipe muito
doida, mas gente boa. Anderson Fernandes, que adora um café e toma de caneca
nas reuniões (frio ou quente, ele manda ver), Ariane Noronha que é nossa
‘estágios’ e às vezes ouve vozes, Cibelli Marthos, que de vez em quando dá uns
5 minutos e xinga mesmo, Vivian Turcato, sempre estilosa e ouvindo um rock para
desestressar, Tiago Pantaleon que me acompanha no lanche comendo bananas, Carla
Fiamini com dezenas de páginas para fechar e dá conta de todas, Bras Santos e
sua mesa com pilhas de papéis, doces e afins, Amilson Ribeiro que fica louco
para fechar dois jornais ao mesmo tempo. Samuel que é o garoto DAT Verão,
Marcos ou Marcola que curte um futebol sempre na madrugada (só assim mesmo,
depois de fechar o jornal) e tem um colega nosso, o Rogério, que trabalha na
arte, e vive contando umas histórias da carochinha.
100C - Além do jornal, você
tem mais alguma atividade seja ela profissional ou não? (ex.: freela, blog)
DF - Sim. Faço traduções de
comerciais brasileiros para uma agência de publicidade em Londres. Tenho meu
blog Agência Atitude (www.agenciaatitude.com.br) onde escrevo e analiso temas
ligados a juventude. E mais recentemente estou escrevendo um livro sobre os 50
anos de criação da Diocese de Mogi das Cruzes. É um trabalho bem legal e que
estou curtindo fazer, já que atualmente não estou na reportagem, é uma forma
que encontrei de continuar a escrever e pesquisar.
100C - O que você achou do
“descarte” do diploma para o exercício do jornalismo? Aproveite e deixe um
recado para o Gilmar Mendes.
DF - O pior retrocesso da
profissão em décadas. Sempre defendi o diploma por entender que as faculdades
cumprem um papel importante na formação intelectual de um jornalista e como
forma de apontar o foco para a melhoria da qualidade do ensino. Entendo que têm
pessoas que possuem aptidão para escrever, mas então que entrem na fila como eu
e tantos outros fizeram para entrar no mercado e passem pelo funil. A
responsabilidade que temos como jornalista é algo que muitos desprezam. O foco
deveria ser a melhoria do ensino, não a eliminação do diploma. Felizmente,
temos a PEC tramitando no Congresso e que em breve deve disciplinar esta
questão.
Ping Pong
100C - Time
DF - Corinthians, sempre
100C - Desejo
DF - Um mundo melhor e sem
corrupção
100C - Música
DF - No momento, ouvindo o
álbum “Mylo Xyloto” do Cold Play e o “O que você quer saber de verdade” da
Marisa Monte
100C - Jornalismo
DF - Paixão
100C - Passado
DF - Uma adolescência que dá
saudades
100C - Presente
DF - Minha vida a dois
100C - Futuro
DF - A Deus pertence
100C - Se defina em uma única
palavra
DF - Obstinado
100C - Deixe um recado para os
alunos sonham ingressar no jornalismo.
DF - Sonhem, nunca deixem de
sonhar. Persigam aquilo que desejam como se fosse a pedra preciosa mais rara.
Deixem a ingenuidade de lado, que o mundo é bem mais obscuro do que parece, mas
vejam os sinais de mudança, de transformação e mantenham a esperança. Leiam
muito, de livros a bula de remédio. Se mostrem informados, até chegar a um
ponto em que você se sinta que está antecipando a notícia para quem não sabe.
CONFIRAM as outras entrevistas deste mês e do ano no arquivo da Seção Raio-X clicando aqui!
Eu lembro dessa situação da Gripe Suína no DAT. Acho que o Jorge foi fazer o rostinho do sujeito (não lembro se foi ele, ou o Osvaldo) e voltou pra sala de fotografia apavorado
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