Ao chegar atrasado à redação do Planeta Diário no primeiro dia de trabalho, Clark Kent já foi logo tomando um esporro do chefe de reportagem.
-
Tá pensando que isso aqui é vida na fazenda, Clark? Porra nenhuma! Isso
aqui é cidade grande, meu amigo, metrópole. Não dá pra ser lerdão
assim, não.
Foi quando Clark teve revelado o seu primeiro
superpoder, o da paciência. Paciência para agüentar aquele chefe de
reportagem escroto, paciência para agüentar entrevistado escroto.
Clark
só descobriria seu segundo superpoder 15 dias depois, quando o mesmo
chefe de reportagem lhe deu de presente uma pauta inesperada: exclusiva
com o prefeito.
- Você só tem 15 minutos para chegar à prefeitura. E não pode atrasar, ouviu? Se vira, Clark. Vai voando.
Sem que o pessoal da redação percebesse, Clark pegou bloquinho e caneta, e abriu a janela do 15º andar.
O
trabalho de jornalista ajudou Clark a concluir que ele só podia ser de
outro planeta. Em menos de um ano, já havia descoberto vários outros
superpoderes, como o da imortalidade (trabalhou dois meses sem folga e
não morreu), o do sopro congelante (que estreou contra um assessor de
imprensa chato) e o da invulnerabilidade (com exceção, claro, à
kryptonita e ao filé mignon ao molho madeira que, sempre que devorado
numa coletiva, lhe causava uma puta diarréia).
Lois Lane, sua
namoradinha na redação, adorava o superpoder da velocidade de Clark.
Transavam em 2 ou, no máximo, 3 segundos nas escadas entre o 15º e o 16º
andar. Eram tantas pautas, tanta exploração, que não havia muito tempo
para o amor naquele jornal. A rapidíssima, repetida três ou quatro vezes
ao dia, ajudava Lois a suportar o estresse da profissão.
O único
superpoder que Clark não conseguiu desenvolver foi o da resistência às
suas crises de vaidade. Era só não emplacar a manchete do jornal que ele
ficava todo nervosinho. Nesses dias, Clark descontava sua raiva em
Lois, privada das alegres visitas às escadarias do prédio, e nos pobres
assessores de imprensa que apareciam na redação. Demoravam horas para
descongelar.
Autor: Duda Rangel
Blog: Desilusões Perdidas
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