terça-feira, 11 de outubro de 2011

Seção Raio-X nº 06 - Silvio Carvalho

Foto: Adilson Santos
A 6ª edição do Raio-X apresenta um “Dino”jornalista SILVIO DE CARVALHO FILHO que nasceu em Ferraz de Vasconcelos há 56 anos, sendo que, destes 33 foram dedicados ao jornalismo. Foi no município de Poá, onde chegou com apenas 6 anos de idade, que Silvio se “enraizou” e fundou o jornal Notícias de Poá, um dos mais antigos em atividade na região do Alto Tietê (29 anos). Casado e pai de duas filhas, o jornalista que também já é avô, é amante de coisas naturais (mata, sol, vento, tempestade, etc.). Silvio também tem um hobby que é ser aviador, esporte que pratica há mais de 20 anos e abastece a sua adrenalina, além disso, ele também é simpatizante de todas as religiões que respeitam as outras. Com tudo isso, Silvio se define como um ser humano quase perfeito e que, às vezes, o faz pensar que, se o mundo realmente acabar, ele será o primeiro a ir embora daqui.

100C - Por que o jornalismo?
SC - Sempre li muito. Desde os 16 anos, na ida e volta no trem para São Paulo. Então descobri o mundo através de repórteres/romancistas, que me fizeram apaixonar pelas narrativas, pelas letras. Aprendi que as palavras fazem viajar, ensinam, enriquecem o pensamento e a alma. No Colégio Padre Simon escrevi num fanzine mimeografado, incentivado pelo amigo Sérgio Boscolô. Fiz minha primeira reportagem, (uma sessão da Câmara de Poá) para o Diário de Suzano, então o semanal tipográfico “Comarca de Suzano”. Fiquei alucinado com a publicação. E assim que saí do colegial (curso médio) fundei com ele e mais um amigo, o Fernando Ambrus, o jornal Atividade (1973) o primeiro em off-set de Poá e do Alto Tietê. Como eu pensava que já sabia fotografar e gostava de escrever, era tudo um rico aprendizado nesta área. O jornal faliu, mas me ensinou mais que os quatro anos do curso de jornalismo, feito mais tarde.

100C - Depois que você entrou para essa área, aonde você já trabalhou aonde?
SC - Como repórter fotográfico foi que eu atuei em mais veículos, na chamada grande imprensa. Escrevi coluna na Folha (Informática) sobre fotografia, publiquei fotos como free-lance no JT, Folha, Estadão, Veja..., em 79, 80, 81. Fui programador gráfico na editora Ática e depois fotógrafo para vários livros didáticos. Em seguida, jornais na região: Comarca Poaense, Grande São Paulo, Novojornal entre outros, que não me lembro. Faz muito tempo. E finalmente, a partir de 1982, no Notícias de Poá, que fundei por absoluta falta de emprego na época em que me formei.  Mas como tudo acaba se encaixando, acabei aplicando neste jornal tudo o que aprendi em segmentos da profissão. De repórter a editor. Hoje atuo mais na edição, reportagem política e fotografia, já deixei de ampliar as fotos em branco e preto no laboratório e parei de distribuir jornais (!!!) (veja aqui e aqui).

100C - Qual foi a pior e a melhor pauta que você cobriu?
SC - Puxa, em mais de 30 anos é dificil escolher uma só de cada. A mais agradável é quando voce vê o resultado positivo do seu trabalho. Uma delas, a que mudou o destino de um pobre rapaz acusado de estupro. Uma menina de uns 8 anos estava com a mãe na delegacia e as duas acusavam o vizinho de pedofilia. Como a menina estava muito a vontade no corredor, falei com a menina e me lembro bem que tanto o impulso para interrogá-la como a própria pergunta veio de outra esfera. Com a resposta, descobri que quem atacava era o padrasto. E a mãe mandou a filha dizer que era o vizinho para livrar o companheiro. Falei com o delegado e ele chamou a menina e soltou o rapaz, abrindo inquérito contra os pais. Dois anos depois fui ao Fórum para depor, já envolvendo o verdadeiro autor e co-autora.
Agora, aquelas pautas com adrenalina é que mais me motivaram. Tipo fazendo fotos durante a formação do PT em São Bernardo onde uma guerra civil estava por um fio envolvendo exército e metalúrgicos, liderados pelo Lula. Uma reportagem sobre Trindade, que estava para ser tomada por uma construtora e foi mantida pelos caiçaras. A campanha pelas diretas já na Praça da Sé. Aquele palanque com expressões máximas da política e a cobertura da imprensa do mundo todo... Fatos assim que são marcantes na história do país. Claro que aqui também tem fatos marcantes e que, guardadas as proporções, exigem rapidez de raciocínio e sensibilidade para não perder os detalhes mais importantes. 

100C - E a pior pauta?
SC - Sobre a menos agradável não me lembro de uma, mas na imprensa local, todas reportagens investigativas que envolvem amigos, parentes ou pessoas de relacionamento pessoal. Daí, manter a tarefa impessoal se torna algo muito espinhoso, antes e depois da publicação.

100C - Se possível, destaque três colegas do jornalismo na região que você admira o trabalho.
SC - Citar somente três seria injusto com dezenas de pessoas competentes com as quais convivi. Muitas destas que treinei aqui na redação, quando estagiaram. Destaco com louvor todos os que se mantém incorruptíveis, que são destemidos, idealistas, que acreditam na força da imprensa como quarto poder.

100C -O que é o jornalismo para você?
SC - Jornalismo é a profissão que mais exige do profissional; a mais competente para acabar com injustiças, mais até que o próprio poder Judiciário – que nem sempre é justo. Que traz esperança na informação e tira os alienados da letargia. Enfim, se existe alguma profissão que pode mudar o mundo, é o jornalismo.


100C - Qual foi (é) a sua maior alegria e a maior decepção com o jornalismo?
SC - Alegria, no jornalismo como um todo, é ver o feito de grandes reportagens ao desmascararem corruptos, aqueles que derrubaram presidentes. Decepção é ver que a quantidade de leitores e pessoas que se interessam pela informação é pequena e o trabalho, às vezes, nos faz pensar que estamos “batendo em ferro frio”.

100C - O 100 Comunicação está preparando um estudo para preparar uma espécie de tabela de referência para freelas no Alto Tietê, uma vez que, a tabela do sindicato não condiz com a realidade da nossa região. Você é a favor ou contra? Por quê?
SC - Uma tabela diferenciada é bem legal. Sou a favor. O trabalho do free-lance é bem apropriado para pequenas e médias empresas de comunicação.

100C - Você tem alguma sugestão para o 100 Comunicação?
SC - Sim: criar um banco de vagas disponíveis e currículos resumidos de profissionais que buscam colocação.

100C - O que te motivou a ter o seu próprio jornal?
SC - Bem, na época, como já disse não tinha vagas nos veículos da região. E trabalhar na capital nunca foi meu desejo - qualidade de vida em primeiro lugar. Então, como tinha experiência prática nas várias fases de produção, foi fácil abrir, numa época que era bem mais dificil.  Hoje, a informatização e esta infeliz decisão de acabar com a exigência do diploma, tornou a coisa vulgarizada.

100C - O Notícias de Poá é um dos jornais mais antigos em atividade no Alto Tietê, como você vê isso e quais sãos os planos para o futuro deste periódico?
SC - Pois é, quase trinta anos de circulação. Eu sempre fixei a linha editorial em pesquisa de campo e público o que a maioria gosta de ler. Então, em época de vacas magras a venda em banca segurou bem as pontas, embora a cota de publicidade sempre é a mais importante receita. Os planos são de continuar aumentando a tiragem e abrangendo um público maior e também atingir maior número de internautas. Eu continuo com o pensamento que o jornal é um órgão de utilidade pública e só depois empresa lucrativa. Se um dia houver uma cooperativa de profissionais de imprensa destemidos disposta a assumir o controle... será transferido com o maior prazer. Que tal?

PERGUNTAS PARA QUEBRAR O GELO

100C - Conte duas ou mais situações engraçadas que você passou em pautas durante esses anos de jornalismo?
SC - Não me lembro...

100C - O que é mais difícil? Ser repórter, dono do jornal ou manter esse bigodinho? Explique:
É mais chato manter o bigode...

100C - Utilize esse espaço para apresentar as dicas de como manter esse “físico de cotonete” (rs).
SC - Cotonete? É que você não me conheceu quando eu tinha 54 quilos com 1,78 m e tinha apelido de “gato seco”. Anota lá: Cobrir coletivas e ficar horas em pé esperando a chegada sem se alimentar, jogar bola com os amigos, comer frutas - mas não comprada na feira ou no mercado - tem que pegar na árvore ou pular o muro do vizinho, que tem um rotweiller. Empinar pipa na laje e também aquilo... como vou dizer, pelo menos duas vezes por semana... (ou será por ano? – já nem me lembro mais !).

APROVEITE para conferir a entrevista deste mês com Marilucy Cardoso e as do mês de setembro no Arquivo Raio-X.

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