Foto: Adilson Santos
A 6ª edição do Raio-X apresenta um “Dino”jornalista
SILVIO DE CARVALHO FILHO que nasceu em Ferraz de Vasconcelos há 56 anos, sendo
que, destes 33 foram dedicados ao jornalismo. Foi no município de Poá, onde
chegou com apenas 6 anos de idade, que Silvio se “enraizou” e fundou o jornal
Notícias de Poá, um dos mais antigos em atividade na região do Alto Tietê (29
anos). Casado e pai de duas filhas, o jornalista que também já é avô, é amante
de coisas naturais (mata, sol, vento, tempestade, etc.). Silvio também tem um
hobby que é ser aviador, esporte que pratica há mais de 20 anos e abastece a
sua adrenalina, além disso, ele também é simpatizante de todas as religiões
que respeitam as outras. Com tudo isso, Silvio se define como um ser humano
quase perfeito e que, às vezes, o faz pensar que, se o mundo realmente acabar,
ele será o primeiro a ir embora daqui.
100C - Por que o jornalismo?
SC - Sempre li muito. Desde os 16 anos, na ida e volta no trem
para São Paulo. Então descobri o mundo através de repórteres/romancistas, que me
fizeram apaixonar pelas narrativas, pelas letras. Aprendi que as palavras fazem
viajar, ensinam, enriquecem o pensamento e a alma. No Colégio Padre Simon
escrevi num fanzine mimeografado, incentivado pelo amigo Sérgio Boscolô. Fiz
minha primeira reportagem, (uma sessão da Câmara de Poá) para o Diário de
Suzano, então o semanal tipográfico “Comarca de Suzano”. Fiquei alucinado com a
publicação. E assim que saí do colegial (curso médio) fundei com ele e mais um
amigo, o Fernando Ambrus, o jornal Atividade (1973) o primeiro em off-set de
Poá e do Alto Tietê. Como eu pensava que já sabia fotografar e gostava de
escrever, era tudo um rico aprendizado nesta área. O jornal faliu, mas me
ensinou mais que os quatro anos do curso de jornalismo, feito mais tarde.
100C - Depois que você entrou para essa área, aonde você já trabalhou
aonde?
SC - Como repórter fotográfico foi que eu atuei em mais
veículos, na chamada grande imprensa. Escrevi coluna na Folha (Informática)
sobre fotografia, publiquei fotos como free-lance no JT, Folha, Estadão,
Veja..., em 79, 80, 81. Fui programador gráfico na editora Ática e depois
fotógrafo para vários livros didáticos. Em seguida, jornais na região: Comarca
Poaense, Grande São Paulo, Novojornal entre outros, que não me lembro. Faz
muito tempo. E finalmente, a partir de 1982, no Notícias de Poá, que fundei por
absoluta falta de emprego na época em que me formei. Mas como tudo acaba se encaixando, acabei
aplicando neste jornal tudo o que aprendi em segmentos da profissão. De
repórter a editor. Hoje atuo mais na edição, reportagem política e fotografia,
já deixei de ampliar as fotos em branco e preto no laboratório e parei de
distribuir jornais (!!!) (veja aqui e aqui).
100C - Qual foi a pior e a melhor pauta que você cobriu?
SC - Puxa, em mais de 30 anos é dificil escolher uma só de cada.
A mais agradável é quando voce vê o resultado positivo do seu trabalho. Uma
delas, a que mudou o destino de um pobre rapaz acusado de estupro. Uma menina
de uns 8 anos estava com a mãe na delegacia e as duas acusavam o vizinho
de pedofilia. Como a menina estava muito a vontade no corredor, falei com a menina
e me lembro bem que tanto o impulso para interrogá-la como a própria pergunta
veio de outra esfera. Com a resposta, descobri que quem atacava era o
padrasto. E a mãe mandou a filha dizer que era o vizinho para livrar o
companheiro. Falei com o delegado e ele chamou a menina e soltou o rapaz,
abrindo inquérito contra os pais. Dois anos depois fui ao Fórum para depor, já
envolvendo o verdadeiro autor e co-autora.
Agora, aquelas pautas com adrenalina é que mais me
motivaram. Tipo fazendo fotos durante a formação do PT em São Bernardo onde uma
guerra civil estava por um fio envolvendo exército e metalúrgicos, liderados
pelo Lula. Uma reportagem sobre Trindade, que estava para ser tomada por uma
construtora e foi mantida pelos caiçaras. A campanha pelas diretas já na Praça
da Sé. Aquele palanque com expressões máximas da política e a cobertura da
imprensa do mundo todo... Fatos assim que são marcantes na história do país.
Claro que aqui também tem fatos marcantes e que, guardadas as proporções,
exigem rapidez de raciocínio e sensibilidade para não perder os detalhes mais
importantes.
100C - E a pior pauta?
SC - Sobre a menos agradável não me lembro de uma, mas na
imprensa local, todas reportagens investigativas que envolvem amigos, parentes
ou pessoas de relacionamento pessoal. Daí, manter a tarefa impessoal se torna
algo muito espinhoso, antes e depois da publicação.
100C - Se possível, destaque três colegas do jornalismo na
região que você admira o trabalho.
SC - Citar somente três seria injusto com dezenas de pessoas
competentes com as quais convivi. Muitas destas que treinei aqui na redação,
quando estagiaram. Destaco com louvor todos os que se mantém incorruptíveis,
que são destemidos, idealistas, que acreditam na força da imprensa como quarto
poder.
100C -O que é o jornalismo para você?
SC - Jornalismo é a profissão que mais exige do profissional;
a mais competente para acabar com injustiças, mais até que o próprio poder
Judiciário – que nem sempre é justo. Que traz esperança na informação e tira os
alienados da letargia. Enfim, se existe alguma profissão que pode mudar o
mundo, é o jornalismo.
100C - Qual foi (é) a sua maior alegria e a maior decepção com o
jornalismo?
SC - Alegria, no
jornalismo como um todo, é ver o feito de grandes reportagens ao desmascararem
corruptos, aqueles que derrubaram presidentes. Decepção é ver que a quantidade
de leitores e pessoas que se interessam pela informação é pequena e o trabalho,
às vezes, nos faz pensar que estamos “batendo em ferro frio”.
100C - O 100 Comunicação está preparando um estudo para preparar
uma espécie de tabela de referência para freelas no Alto Tietê, uma vez que, a
tabela do sindicato não condiz com a realidade da nossa região. Você é a favor
ou contra? Por quê?
SC - Uma tabela diferenciada é bem legal. Sou a favor. O
trabalho do free-lance é bem apropriado para pequenas e médias empresas de
comunicação.
100C - Você tem alguma sugestão para o 100 Comunicação?
SC - Sim: criar um banco de vagas disponíveis e currículos
resumidos de profissionais que buscam colocação.
100C - O que te motivou a ter o seu próprio jornal?
SC - Bem, na época, como já disse não tinha vagas nos veículos
da região. E trabalhar na capital nunca foi meu desejo - qualidade de vida em
primeiro lugar. Então, como tinha experiência prática nas várias fases de
produção, foi fácil abrir, numa época que era bem mais dificil. Hoje, a informatização e esta infeliz decisão
de acabar com a exigência do diploma, tornou a coisa vulgarizada.
100C - O Notícias de Poá é um dos jornais mais antigos em
atividade no Alto Tietê, como você vê isso e quais sãos os planos para o futuro
deste periódico?
SC - Pois é, quase trinta anos de circulação. Eu sempre fixei
a linha editorial em pesquisa de campo e público o que a maioria gosta de ler.
Então, em época de vacas magras a venda em banca segurou bem as pontas, embora
a cota de publicidade sempre é a mais importante receita. Os planos são de continuar aumentando a tiragem e
abrangendo um público maior e também atingir maior número de internautas. Eu
continuo com o pensamento que o jornal é um órgão de utilidade pública e só
depois empresa lucrativa. Se um dia houver uma cooperativa de profissionais de
imprensa destemidos disposta a assumir o controle... será transferido com o
maior prazer. Que tal?
PERGUNTAS PARA QUEBRAR O GELO
100C - Conte duas ou mais situações engraçadas que você passou
em pautas durante esses anos de jornalismo?
SC - Não me lembro...
100C - O que é mais difícil? Ser repórter, dono do jornal ou
manter esse bigodinho? Explique:
É mais chato manter o bigode...
100C - Utilize esse espaço para apresentar as dicas de como
manter esse “físico de cotonete” (rs).
SC - Cotonete? É que você não me conheceu quando eu tinha 54
quilos com 1,78 m e tinha apelido de “gato seco”. Anota lá: Cobrir coletivas e
ficar horas em pé esperando a chegada sem se alimentar, jogar bola com os
amigos, comer frutas - mas não comprada na feira ou no mercado - tem que pegar
na árvore ou pular o muro do vizinho, que tem um rotweiller. Empinar pipa na
laje e também aquilo... como vou dizer, pelo menos duas vezes por semana... (ou
será por ano? – já nem me lembro mais !).
APROVEITE para conferir a entrevista deste mês com Marilucy Cardoso e as do mês de setembro no Arquivo Raio-X.
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