quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

COISA DE LOUCO - Por Walmir Barros

Coisa de louco

Por Walmir Barros
Já passei em tudo que é tipo de profissional do ramo de medicina: examinei garganta, pulmões, olhos, língua, rins, fígado, coração e etc... (todos os órgãos continuam em falência múltipla, já assinada a concordata, agora é esperar que o credor mor: A VIDA, se manifeste.

O preconceito, o machismo e a determinação de morrer virgem ainda não me levaram ao exame de próstata, feito por "oncologista"s (!?). Nem eu mesmo sei se é esse o cara responsável por meter o dedo onde não deve; onde homem que é homem jamais deve ter o pesadelo de ver alguém fuçando.

Por aí é que os leitores amigos e, também os inimigos, terão a exata noção do desejo, vontade e determinação que esse velho jornalista tem de morrer c@b@ç#, intacto e campeão invicto!!!
Mas, entre essas e outras vias médicas, deu de um dia eu precisar ir a um psiquiatra. Não que estava batendo os pinos. Acontece que os estresses da vida, síndrome do pânico, mania de perseguição e outras do reinado de Nero, estavam me deixando no meio fio entre o real e o imaginário, com os dois se fundindo em um só. E eu no meio dessa parafernália psíquica – totalmente bagunçado – não vi alternativa. O certo era marcar uma consulta com um “médico de cabeça”, para explicar, ou tentar, que eu estava todo errado.

A veia literária até me serviu de consolo, porque dita que de “poeta, médico e louco todos temos um pouco”. Fico no segundo plano, me considero poeta. Gosto do último; sou um pouco louco. Tudo bem! Vamos ao grande dia.

– José! Marquei consulta com um psiquiatra – falei ao amigo de todas as horas, que já foi retrucando.

– “Tava” mais que na hora de ver o que tem nessa cabeça de jerico. Não sei o que existe na cabeça de jornalistas. Só andam pensando em concertar o mundo, em denunciar e fazer o diabo a quatro com a corrupção e os corruptos. Quando não conseguem se frustram e começam a ver cobras subindo pelas paredes.

– Pega leve “Zé”! Exponho a minha intimidade e você me vem com essa cachoeira de bronca. Não bastasse essa dúvida desgraçada que “tá” me comendo o cérebro – supliquei.

 – Desculpa! É que hoje eu “tô” igual a você. Não levantei da cama nem com o pé direito, nem com o esquerdo. Tomei um tombo ferrado. Acordei com minha sogra gritando que não tinha ninguém pra levar o Juninho pra escola. Além da sogra gritando, lembrei do meu finado pai rasgando a garganta para me tirar da cama pra ir pra escola. Fui sair da cama, me enrolei todo no cobertor e espalhei no chão, fiquei igual a uma dobradinha – narrou o companheiro das horas mais duras e mais difíceis da minha vida. Inclusive aquela posta quando ele me expôs todo o drama de acordar ouvindo a doce voz da mãe de sua esposa. Que doçura amarga!

– Que "cê" tem cara?
– Sei lá! Se soubesse não ia a um médico. Principalmente, um médico de doido!
– “Tá” rasgando nota de cem reais?
– Não!
– Tá vendo disco voador?
– Não!
– Extraterrestres?
– Não!
– Começou a acreditar em duendes?
– Não!
– Papai Noel?
– Não!
– Mula sem cabeça?
– Em políticos?
– Piorou! “Zé”. É claro que não. E não brincadeira cara. É sério, porra!!!
– Então qual é a sua dúvida cruel? – indagou ele sentindo que a gravidade da situação já corria para as vias de fato.
– A situação é que já vai pra uma semana que não consigo dormir. O cérebro “tá” a milhão. Na redação, pra não ficar ouvindo “babaquices” de jornalistas metidos a intelectuais, que pensam saber e ter respostas pra concertar todos os erros do país (com direito à aula de política de internacional, para dar pitacos nos problemas de outros países), me enfio no carro de reportagem e me mando pras ruas.

“As ruas” é um lugar lindo, uma fábrica de malucos. Uma floresta com toda a espécie de bichos: put@, mendigos, patricinhas (os), cafetões, traficantes, policiais corruptos, bêbados, moradores de rua, engravatados pensando em dar algum tipo de golpe, homicidas, enfim uma fauna para compor o inferno de Dante.

“As ruas” é um lugar onde passam eu, meu gravador e minha máquina fotográfica (pra congelar essa porra toda; que por minha vontade amaldiçoava por mil anos de congelamento – prorrogáveis por mais mil anos. Até que Deus bolasse um jeito melhor de perder o tempo para construir uma coisa melhor, ou, então, que ao menos justificasse porque o tempo perdido com essa p#rr@.

– Resumindo “Zé”, é isso ai tudo. Algo maior que a torcida do Corinthians e do Flamengo está fundindo a minha cabeça.

– Caraca! A coisa “tá” mal mesmo. Eu hein! Meus pêsames, amigão! O que eu coloco na lápide. “Aqui jaz um idealista, que de tanto pensar agora se alimenta igual a um burro, come o mato pela raiz”, tripudiou o irreverente José.

– C@r@lh#!!! “Zé”, você não se compadece do seu amigo? P#rr@!!! Tô ficando “doidaço” e você é só piada. Dá um mole, que caceta!!!

 – Calma “véio”. “Tá” pirando mesmo. Antes o rei do tripúdio era tu. Agora tá parecendo um leão com espinho na pata. Vai manso que o santo é de barro, meninão – esquivou o amigo já consciente que ia tomar uns sopapos.

– Vai... qual conselho você quer – disse voltando à normalidade do tema, que no momento era a minha suposta anormalidade.

– Oh Zé, desculpa pela explosão. É que eu ando um vulcão em plena atividade. Vamos lá. Nunca tive nessa situação. Falar com um psiquiatra. Nem sei o que vou dizer. Chego lá, o cara vai ficar me olhando eu olhando pra ele. E pensando, pronto: dois loucos. Um querendo saber quem é o mais doido. Ô derrota!

– Bom! Se você já tem todo esse quadro analítico então nem precisa ir. Aliás, está muito bom da cabeça. Pensa até como vai ser todo o andamento da consulta. “Cê” tem nada cara. É só descansar e fica pronto pra outra – disse o velho, bom e irreverente amigo Zé.

Já mais aliviado, retornei a carga e voltei ao auxílio.
– Zé! Valeu pela força. Você é um amigão mesmo. E mais um favor. Como nunca fui a esse tipo de médico nem sei o que vestir. O que você sugere?

Ele me olhou bem nos fundos dos olhos. Fez aquela cara de expert e pensando numa boa roupa para esses momentos: mandou – Uma calça boa e pra combinar bem com a situação põe uma camisa de força!

 
Walmir Barros, 52 anos, Jornalista, Jornal Da hora - Bertioga/SP

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