terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Seção Raio-X nº 18 - Bras Santos

A Seção Raio-X apresenta hoje uma entrevista esperada por muitos, pois BRAS SANTOS de Oliveira, 40 anos, é um dos jornalistas mais polêmicos, sarcásticos e, principalmente, com altíssimo nível de profissionalismo da região do Alto Tietê. Jornalista desde 1998, Bras que se define como jornalista, idealista, um pouco pessimista e sonhador, nasceu em São Bernardo do Campo e reside, atualmente no município de Suzano. Aproveite a entrevista e conheça mais dessa figura que já está registrada na história do jornalismo regional!

100C - Por que o jornalismo?
BS - Sempre acreditei que por meio do jornalismo poderia saber exatamente como e porque as coisas acontecem. E, eventualmente, mudar alguma na sociedade. Na prática, o jornalismo me fez conhecer muita coisa, mas não mudei praticamente nada. Faz parte.

100C - Depois que você entrou para essa área, aonde você já trabalhou e em que cargo? Aonde você trabalha atualmente e há quanto tempo? Qual função exerce?
BS - Fiz estágio no Gazeta Popular de Suzano, depois ingressei em 1998 no Diário de Mogi, em 2000 fui para o Diário de Suzano, em 2002 ingressei no Mogi News onde estou até hoje.     Sempre fui repórter, mas já tive passagens na chefia de pauta e edição.

100C - Depois desse tempo atuando na área, como você o jornalismo? É exatamente aquilo que você imaginava? Por quê?
BS - É o que eu imaginava no sentido de que a gente tem condições de saber por que as coisas acontecem ou não acontecem, conseguimos também conhecer o seu humano nas mais diversas situações, especialmente quando as pessoas tem poder. Por esse lado o jornalismo era o que imaginava. No entanto, o jornalismo que ‘sabe tudo’, na maioria das vezes, usa todo esse conhecimento e poder para atender interesses de pessoas e grupos e não de toda a sociedade. Não era isso que eu imaginava.

100C - Qual foi a pior e a melhor pauta que você cobriu?
BS - Isso é muito relativo. Às vezes o retorno profissional de uma pauta simples é mais interessante que o de uma grande cobertura. Marcou na minha carreira (ainda no início) a cobertura do roubo contra o ator Gerson Brener – foi a minha primeira grande cobertura em um jornal diário. Assunto de grande repercussão.

100C - Se possível, destaque três colegas do jornalismo na região que você admira o trabalho.
BS - Admiro todos que conseguem sobreviver nessa profissão com um mínimo de independência e dignidade. Por outro lado, tenho sérias restrições a um número bem grande de colegas que por incompetência e ou conveniência e ou falta de ética utilizam o jornalismo como meio (para conseguir namorado/a, amigos, emprego em assessorias, presentes e outros) e não como fim – no sentido de garantir informação confiável à população, mais qualidade de vida às pessoas. Jornalismo exige compromisso com a verdade (factual), com os leitores, com a sociedade e principalmente com a nossa consciência. Para não tornar a convivência ainda mais complicada  - não vou citar nomes nem daqueles que se esforçam para fazer um jornalismo respeitável e que tem a minha admiração e nem daqueles que abomino por poluir o jornalismo e contribuir para a indigência intelectual de boa parte da população.

100C - O que é o jornalismo para você?
BS - Jornalismo é uma faca de dois legumes, como dizia o presidente do Corinthians. Para mim, ele é uma arma poderosa em favor dos interesses da sociedade, mas pode ser também uma arma poderosa contra os interesses da maioria. Hoje (e sempre no Brasil), o jornalismo atende mais aos interesses de grupos políticos e empresariais.

100C - Qual foi a sua maior alegria e a maior decepção com o jornalismo?
BS - A maior alegria foram os resultados obtidos. Fiz algumas denuncias importantes que resultaram em mudanças de atitude de autoridades e políticos e na realização de serviços e obras de interesse da população.  Fiz matérias de enchentes onde a água levou tudo que tinha nas casas e depois que as matérias foram publicadas, várias pessoas (sensibilizadas pelas reportagens) procuram a mim e ao jornal para ajudar crianças que tiveram cadernos e materiais levados pelas enchentes. Isso emociona. Decepção aconteceu quando comecei a perceber que a maioria das ‘pautas e assuntos’ da nossa imprensa interessava (interessa) apenas para alguns e não a todos.

100C - Você tem alguma sugestão para o 100 Comunicação?
BS - Na medida do possível, o 100 Comunicação poderia mostrar a falta de compromisso e mesmo de ética de muitos colegas da nossa profissão. O jornalismo depende e muito da postura e seriedade dos jornalistas. Lamentavelmente tem muita gente (baba ovo – incompetente – subserviente) que prejudica a classe e o jornalismo. 

100C - Destaque um ponto positivo e um negativo do 100C.
BS - Positivo  - integrou os profissionais de comunicação da região. É uma referência para os jornalistas e fotógrafos.
Negativo  - o termo não seria bem isso, mas o blog pode aprofundar suas ações com eventos para jornalistas, fotógrafos e profissionais do meio. Essa categoria é muito desunida e desamparada. O blog tem potencial para unir todo esse pessoal.

100C - O que você mais gosta e o que você mais odeia nas pautas?
BS - Aprender. Qualquer pauta serve para a gente aprender alguma coisa e isso é bom. Não gosto de pautas ‘muito positivas’, aquelas encomendadas por políticos, mas elas são inevitáveis.

100C - O que você espera para o seu futuro profissional?
BS - Sou muito pessimista em relação ao futuro do jornalismo como ele é hoje.  Não vejo muitas perspectivas. A palavra escrita está perdendo força e espaço. Acredito (e espero) em mudanças radicais na forma de se fazer jornalismo. Não sei dizer exatamente o que precisamos mudar. Tenho a sensação que nosso modelo de jornalismo (especialmente o impresso) está saturado, mas continuo trabalhando por um jornalismo mais ‘limpo’ e relações mais transparentes. Espero contribuir nesse processo.
 
100C - Você tem algum trabalho paralelo junto ao seu atual emprego? (ex.: blog, freela, entre outros)
BS - Com muitas contas para pagar e gosto pela profissão, além do Mogi News e Diário do Alto Tietê onde estou completando dez anos de muito trabalho, presto serviços para as revistas Leve e Ame + de Suzano e o jornal Cotidiano de Ferraz de Vasconcelos. Escrevo sobre política na internet.

100C - Para quebrar o gelo: Conte duas ou mais situações engraçadas que você passou no jornalismo.
BS - Pode parecer estranho, mas depois de um certo tempo na profissão tudo fica ‘comum’. Tem uma história que não é engraçada, mas revela a complexidade da profissão. Faz alguns anos fiz uma matéria sobre a Mogi-Bertioga que tinha acabado de receber obras e estava muito movimentada e com trechos de congestionamento nos finais de semana. Para fazer um trabalho diferente, usamos um helicóptero para sobrevoar a estrada. Não sou muito medroso, mas não estou acostumado a voar, então fui para a pauta, mas já assim meio desconfiado. O embarque foi em Arujá. Chegamos lá por volta das 10 horas. Um funcionário disse que o comandante Pavão (que conduziria a máquina) estava atrasado. Passou uns 20 minutos, o comandante Pavão chegou de óculos escuros e falando que não tinha dormido direito e tal. Era semana de carnaval. Ao ver o comandante meio estragado fiquei um pouco mais preocupado. Mas seguimos na pauta. Chegou ao trecho de descida da serra, o vento estava fortíssimo o avião começou a balançar, o comandante demonstrou uma certa preocupação e o fotógrafo (o Amilson Ribeiro) tentava esconder o pânico. “É uma venturoca”, tentava explicar o Pavão. Feitas as fotos, mais que depressa pedimos ao comandante que retornasse à base. Foi com alívio que desembarquei e me despedi do Pavão. Meses depois apareceu uma pauta. Um ‘avião’ teria caído na Serra do Itapeti, em Mogi das Cruzes. Fomos para lá. Depois de uma hora pelo meio do mato chegamos ao local do acidente (fomos os primeiros da região a chegar ao local). Depois de muito olhar, identifiquei o corpo do piloto. Carbonizado, o corpo não tinha mais que 50 centímetros de comprimento. E pesava talvez uns oito quilos. Peguei informações com policiais que estavam na área. Quando estávamos deixando o local, um policial comentou. O piloto que morreu chamava comandante Pavão. Lembrei na hora da matéria na Mogi-Bertioga e do piloto tentando controlar o avião afetado pelos ventos na Serra do Mar. Agora ele estava li, reduzido a um monte de cinzas. É a vida, é o jornalismo.

100C - Destaque três atuais e três ex-companheiros de trabalho que você classifica como “fora do normal”, seja pela personalidade, loucura ou coisas do tipo. Explique:
BS - Luciano Ornellas – que foi diretor de Redação do Mogi News. Com muita experiência e bagagem. Aprendi muito.  Darwin Valente – do Diário de Mogi - foi meu primeiro editor em jornal diário. Também conhece bastante de jornalismo.
Tem o Orfeu Albuquerque - que levou vários jornalistas (inclusive eu) para a boemia nos anos de 1990. Tem muita gente que eu gosto no jornalismo, em razão do convívio quase diário nas pautas. Mas não mais gente muito louca e fora do normal. A maioria é normal.

100C - Você tem cara de mal-humorado. A embalagem corresponde ao produto ou é pura fachada?
BS - É só cara. Essa profissão é desafiadora, mas bastante frustrante. O dia a dia do jornalismo (o que podemos escrever e o que não podemos) é bastante estressante. Além disso, existem outras dificuldades, as contas para pagar, o time que sempre perde, as crianças para cuidar.  Tudo isso contribuiu para um aparente mau humor, que na prática não ocorre.
100C - Você é uma das figuras mais conhecidas do jornalismo do Alto Tietê, seja pela sua passagem em diversos jornais e municípios ou pela sua “cara de mal-humorado (rs)”. Essa “fama” já lhe trouxe algum problema em pauta?
BS - Não me considero mal humorado. Sou tímido e levo o trabalho muito a sério. Esse comportamento nunca me causou problemas, pelo menos até onde eu saiba.

Ping Pong


100C - Time
BS - Palmeiras

100C - Desejo
BS - Saúde, trabalho e sucesso para todos

100C - Música 
BS - Pop rock  Bon Jovi

100C -Jornalismo
BS - profissão de fé. Importante para a sociedade

100C - 100 Comunicação
BS - Inovador, importante para jornalistas

100C - Passado
BS - Muito trabalho, frustrações e vontade de ajudar ao próximo

100C - Presente
BS - Trabalho e compromisso em ajudar a sociedade por meio do jornalismo

100C - Futuro
BS - Espero ter a plena sensação do dever cumprido

100C - Se defina em uma única palavra
BS - Estressado

100C - Deixe um recado para os alunos sonham ingressar no jornalismo.
BS - Se não tiver outra coisa, faça jornalismo sabendo que uma profissão muito sofrida, que exige muito do seu tempo e remunera mal. A profissão tem lá seus atrativos, mas jornalista não muda o mundo.

3 comentários:

  1. O Brás é um cara muito gente boa! Entrevista merecida!

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  2. Bras Santos é um dos melhores profissionais da região, além de sua postura ética com os colegas, como poucos hoje em dia. Parabéns! Muito sucesso.

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